22 maio 2009

Artigos

A dose diária de ar


A austríaca Elfriede Jelinek, Nobel de Literatura em 2004, escreve sobre seu conterrâneo Thomas Bernhard

ELFRIEDE JELINEK

Creio que foi a experiência muito precoce da doença que aguçou de vez o olhar de Thomas Bernhard /, que o fez ficar obstinadamente onde estava, para que ninguém lhe tomasse o lugar.
“O procedimento é conhecido: tão-logo o doente parte, a gente sadia imediatamente toma seu lugar, isto é, toma posse de seu lugar, e então o doente, que não estava morto, como todos pensavam, retorna e reclama seu lugar de volta, quer retomar posse, o que revolta a gente sadia.”

(…)

Como nenhum outro, esse homem colérico acreditou na sociedade austríaca, assim como o doente desesperado gostaria de estar entre gente sadia, justamente porque ela lhe infunde o sentimento de não pertencer, justamente porque ela o expulsa, horrível legitimação de tudo o que ela mesma é.

Em seu papel de crítico, e de crítico arquetípico, Bernhard confirma, no ímpeto de criticá-la, essa sociedade que há muito se tornou a substância de sua vida.



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