Dramoletes é um conjunto de "formas breves", o que lhes define o perfil. As personagens, apanhadas como um todo no primeiro traço e a fábula linear, clara, o tempo apertado. É isso que nestas peças faz a sua diferença específica - ele é aliás um autor de longos monólogos contrapostos, um autor que não foge da palavra e que a assume mesmo torrencial.
E são quatro peças curtas, parte da produção bernhardiana de dramoletesque, na realidade, é mais extensa. "Tudo ou nada" tenta corresponder à intenção original do autor, a surpreendente exposição da sobrevivência de traços autoritários, nazis prpriamente apesar de inconsistentes, puramente agressivos e fora de tempo, na mentalidade de certos conservadorismos locais e nacionais. O que não é sequer uma especificidade alemã ou austríaca. Por cá a xenofobia e um certo arcaísmo conservador aí estão. É muito frequente ouvir dizer: a falta que faz um Salazar. E não é por acaso que em Santa Comba Dão lhe ergueram estátua e puseram nome na praça. Eles sabem o que querem, os que fizeram isto.
Bernhard não poupa os seus, o que não significa que seja um teatro político no primeiro grau. O seu humor, eminentemente rítmico e musical, é cáustico e poético, associativo. Encontra nestes comportamentos um campo de aplicação preferencial. É do horror ao bafio que se trata, do vírus que degrada a liberdade e a nega constantemente, uma certa pulsão autoritária e genocida. A sua poesia é certamente saudavelmente iconoclasta, não deixando de ser analítica.
26 maio 2009
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